Os mercados financeiros estão em suspense para 2024, com a expectativa de mudanças significativas na política monetária na Zona Euro.
Enquanto os investidores projetam seis cortes de juros ao longo do ano, os economistas aguardam três reduções, enquanto o Banco Central Europeu (BCE) mantém um véu de incerteza. O que parece certo é que a trajetória da inflação será a bússola para o BCE determinar o timing e o ritmo das medidas de alívio.
Desde julho de 2021, quando a inflação na Zona Euro ultrapassou os 2%, o BCE endureceu a sua postura, elevando as taxas de depósitos por 10 vezes, atingindo os atuais 4%. No entanto, a inflação, que atingiu patamares de dois dígitos em outubro de 2022, começou a declinar rapidamente. Em novembro de 2023, retornou ao nível de julho de 2021, permanecendo acima da meta dos 2%, mas proporcionando ao BCE uma oportunidade de sinalizar o fim do ciclo de aumento das taxas.
Os investidores, encorajados pela mudança de tom da Fed americana, estão a antecipar cortes agressivos de juros em 2024. Apesar de Christine Lagarde, presidente do BCE, afirmar que o tema não foi discutido na última reunião, as projeções dos investidores permanecem praticamente inalteradas, apontando para 150 pontos base de cortes ao longo do ano, com 50% de probabilidade do primeiro ocorrer já em março.
Embora os economistas estejam mais cautelosos, existe um consenso em torno de junho como o possível ponto de viragem. Citando fontes do BCE, a Reuters indicou que não se espera uma mudança no discurso antes de março, e o alívio da política monetária pode não acontecer antes de junho. A próxima reunião do BCE em janeiro e as atualizações do PIB e inflação em março fornecerão mais insights, sendo junho o ponto focal para possíveis cortes de juros.
As expectativas para 2024 divergem entre investidores e economistas, refletindo a incerteza gerada pela ausência de orientações claras do BCE. O Rabobank, mais conservador, prevê apenas dois cortes em 2024, enquanto o Deutsche Bank alinha-se com os mercados, antecipando seis reduções. O ABN Amro destaca o enfraquecimento da procura e do mercado de trabalho, projetando uma redução em junho.
A incerteza sobre o novo patamar neutro das taxas de juros adiciona complexidade ao cenário. Antes da crise inflacionista, o consenso era que o nível neutro estava alinhado com a meta de inflação de 2%. Contudo, os desafios estruturais, como a pandemia, o envelhecimento da população e a transição verde, tornam difícil prever o “novo neutral”. O Rabobank sugere um nível em torno de 2,5%, indicando um possível destino para o BCE após o ciclo de redução de juros.
Em resumo, 2024 promete ser um ano de viragem para a Zona Euro, com mudanças iminentes na política monetária. A trajetória da inflação, os dados econômicos e as projeções do BCE serão cruciais para determinar o timing e a magnitude dos cortes de juros. Investidores e economistas estão atentos a cada sinal, enquanto a incerteza persiste, deixando os mercados em suspense até que o BCE revele o seu plano concreto para enfrentar os desafios econômicos previstos.